Serra das Almas (Brasil, 2024)
Título Original: Serra das Almas
Direção: Lírio Ferreira
Roteiro: Maria Clara Escobar, Paulo Fontenelle e Audemir Leuzinger
Elenco principal: Ravel Andrade, Vertin Moura, Jorge Neto, Mari Oliveira, David Santos, Pally Siqueira e Julia Stockler
Duração: 120 minutos
Distribuição brasileira: Imagem Filmes
Novo thriller de Lírio Ferreira paira sobre o agreste pernambucano com críticas sociopolíticas que exploram o vazio e terminam vazias.
Existem aqueles filmes que fazem o espectador sair da sala de cinema transbordando sensações, como se a experiência vivida ultrapassasse os limites das palavras. Para esses casos, o desafio do crítico é condensar o que foi sentido em um texto que una emoção e clareza. Serra das Almas, infelizmente, não pertence a esse grupo.O thriller dirigido por Lírio Ferreira se alinha mais aos filmes que nos fazem encolher na poltrona, buscando compreender, com o corpo e com a mente, o que exatamente a obra quer expressar — e que nos deixam com a incômoda pergunta: “Certo, mas onde ele queria chegar com isso?”

Na trama, vagamos como almas penadas pelo agreste pernambucano, onde a jornalista Samanta (Julia Stockler) e sua estagiária (Pally Siqueira) investigam um caso de corrupção envolvendo um senador local e seus capangas. A apuração sai do controle quando ambas são sequestradas e mantidas em cativeiro por homens à beira do colapso, presos em uma região remota.
Conhecer bastidores da produção pode ajudar a compreender as intenções do diretor. Rodado em 2022, em meio ao calor das eleições presidenciais entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, o filme busca fazer do cinema um instrumento de crítica sociopolítica. Para dar vida ao roteiro, elenco e equipe técnica passaram dois meses no interior de Pernambuco, num processo de imersão, como relata Ravel Andrade, intérprete do capanga Gislano.
Essa pesquisa de campo se reflete na maneira como a câmera observa o vazio espacial e como os personagens o preenchem com suas presenças inquietas. Há paralelos diretos com o contexto político recente: um político que antagoniza a imprensa, uma fala sobre “13 filhos” que remete ao número do partido de Lula. Mas, ao chegar aos cinemas três anos depois, Serra das Almas parece datado — e o impacto de sua crítica esvazia-se diante de um enredo que não se sustenta por si só.
Para manter o interesse, o filme recorre a uma estrutura não linear: somos lançados diretamente no sequestro e acompanhamos a narrativa em saltos temporais. A montagem tenta nos conduzir até um desfecho revelador, construindo aos poucos os perfis dos personagens. No entanto, embaralhar as cenas não torna a história mais complexa — apenas mascara o fato de que a trama é, na essência, bastante simples.
Dado o histórico de Lírio Ferreira, responsável por obras marcantes como Baile Perfumado (1996) e Árido Movie (2005), esperava-se mais densidade. Sua direção aposta em um cinema regionalista com segurança, mas pouca significância. De igual modo, o roteiro conta um time formadoformaodo por Maria Clara Escobar, Audemir Leuzinger e Paulo Henrique Fontenelle, que, embora tenham certo prestígio, não conseguem dar solidez à narrativa e as inconsistências se transformam em superficialidade.
O elenco também parece subaproveitado. Julia Stockler, em alta com Beleza Fatal, e Mari Oliveira, que encantou o público em Medusa (2021), têm presenças marcantes, mas recebem arcos frágeis e mal desenvolvidos. Suas atuações ficam aquém do potencial, como se a direção não soubesse exatamente como utilizá-las na história que pretende contar.
Portanto, acompanhamos a subida até o topo da Serra das Almas por quase duas horas, mas, ao final da escalada, não há paisagem marcante — apenas o eco de uma crítica que poderia ter sido contundente, mas que se perdeu no vazio.