Crítica | Jurassic Park: Recomeço

Jurassic World: Recomeço (EUA, Reino Unido, Malta e Índia, 2025)
Título Original: Jurassic World Rebirth
Direção: Gareth Edwards
Roteiro: David Koepp (baseado nos personagens criados por Michael Crichton)
Elenco principal: Scarlett Johansson, Mahershala Ali, Jonathan Bailey, Rupert Friend, Manuel Garcia-Rulfo e Luna Blaise
Duração: 134 minutos
Distribuição: Universal Pictures
Sinopse: Cinco anos após Jurassic World: Domínio (2022), uma expedição desbrava regiões equatoriais isoladas para extrair DNA de três enormes criaturas pré-históricas para um avanço médico inovador.

O nome Recomeço carrega em si a promessa de ruptura ou, no mínimo, de renovação numa franquia que há tempos dá sinais de exaustão. Mas o que se vê em Jurassic World: Recomeço é menos uma reinvenção do que uma reorganização de peças conhecidas, como se estivéssemos diante de um quebra-cabeça que insiste em mostrar a mesma imagem. O filme retorna ao formato de jornada insular com dinossauros à solta e humanos em crise, como se isso ainda fosse suficiente para sustentar um espetáculo de proporções jurássicas.

E em muitos momentos, até é. Mas a diferença entre um tributo e uma repetição cansada está na forma, no ritmo e na intenção.

Escolher Gareth Edwards como diretor foi uma decisão que soa estratégica: alguém capaz de lidar com a escala do caos natural (Godzilla) e o peso épico da tragédia pessoal (Rogue One). No entanto, o que se encontra aqui é um diretor contido, que parece ter acatado um manual de franquia em vez de seguir seu instinto visual. Há cenas de tensão bem conduzidas, com destaque para uma sequência noturna com um bote encurralado por um predador aquático, talvez o momento de maior vigor dramático da projeção, mas a direção jamais assume o risco de criar algo próprio. É uma estética feita por algoritmo: correta, funcional e inofensiva.

Narrativamente, Recomeço tenta inserir um comentário social tardio ao abordar o tédio generalizado com os dinossauros e o esgotamento de um mundo saturado de distrações digitais. É uma alegoria interessante que, no entanto, se perde em uma estrutura dividida entre dois núcleos: de um lado, uma expedição científica-corporativista com mercenários genéricos; do outro, uma família deslocada, com direito ao personagem mais irritante da franquia, um alívio cômico que falha em qualquer tentativa de carisma ou empatia. Aqui, o filme revela sua fragilidade mais evidente: o desequilíbrio tonal e a superficialidade de seus dramas.

É sintomático, então, que os nomes mais inspirados do elenco sejam também os que menos se envolvem no melodrama improvisado. Scarlett Johansson e Mahershala Ali aparecem como forças estabilizadoras em meio ao caos, exibindo um carisma que preenche a tela com a mesma força que outrora vimos em Laura Dern ou Jeff Goldblum. São presenças que, ainda que subaproveitadas, conferem alguma dignidade ao projeto. Já a ausência definitiva de Chris Pratt e Bryce Dallas Howard, protagonistas da trilogia anterior, não é exatamente sentida, o que, por si só, diz muito.

Visualmente, o filme alterna entre o fascínio natural dos ambientes tropicais e um CGI que raramente impressiona. Há momentos em que o espetáculo ainda tem fôlego, mas o excesso de soluções fáceis, reviravoltas artificiais e convenções previsíveis mina qualquer tentativa de autenticidade. O filme é menos um recomeço e mais um compêndio de greatest hits, sem a energia do original e sem a ousadia de se perder de propósito para encontrar um novo tom.

A trilha sonora, funcional mas esquecível, e a montagem ritmada, porém engessada, reforçam a impressão de que tudo aqui foi calibrado para o mínimo denominador comum. Recomeço não tem a solenidade desastrosa de Jurassic World: Domínio nem a falta de propósito gritante de Jurassic Park II, mas é incapaz de justificar sua própria existência para além do checklist nostálgico que executa.

O que sobra, no fim, é um blockbuster protocolar que entretém, mas não permanece. Um filme que poderia e deveria ousar mais, mas que prefere a zona de conforto do conhecido. Jurassic World: Recomeço é como ver dinossauros pela primeira vez, mas pela décima vez consecutiva: ainda há admiração no olhar, mas já não há surpresa.

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