Crítica | Monstro: A História de Ed Gein

Monstro: A História de Ed Gein (EUA, 2025)​

Título Original: Monster: The Ed Gein Story
Roteiro: Ryan Murphy e Ian Brennan (criadores)​​
Elenco principal: Charlie Hunnam, Tom Hollander, Suzanna Son, Vicky Krieps, Laurie Metcalf, Hudson Oz, Brock Powell, Jackie Kay​
Quantidade de episódios: 8​
Disponível em: Netflix

O Wisconsin retratado em Monstro: A História de Ed Gein não é apenas um lugar: é um estado mental. A paisagem rural, silenciosa e aparentemente estagnada funciona como extensão do protagonista, vivido por um surpreendentemente sombrio Charlie Hunnam. Seu Ed Gein habita uma zona cinzenta entre o humano e o inominável. Hunnam encontra um ponto raro entre vulnerabilidade e brutalidade, compondo um ser humano que parece sempre à beira do colapso, ou da obediência cega.

Essa fragilidade nasce de sua devoção absoluta à mãe, Augusta Gein, interpretada por Laurie Metcalf. A atriz domina os primeiros episódios com uma presença rígida e religiosa, criando a sensação de que a casa dos Gein é não apenas decadente, mas amaldiçoada. A relação entre mãe e filho, um culto privado baseado em controle, culpa e doutrina,  é o coração do horror. É ali, nesse purgatório doméstico, que Murphy e Brennan constroem sua narrativa.

Se em Dahmer a antologia buscava o choque e, em Os Irmãos Menendez, tropeçava no melodrama, aqui a série assume outro caminho: o da dissecação cultural. A produção entende que o horror não está isolado, mas dialoga com medos coletivos, repressão sexual, moralismo religioso e violência estrutural.

Visualmente, a temporada abraça uma estética pesada. A fotografia constrói a sensação de que o mal tem textura. Não há glamourização, mas há um fascínio inevitável em contemplar a podridão dos atos ali cometidos por Ed.

E se às vezes Murphy exagera no grotesco apenas para chocar (um vício antigo do criador), Brennan equilibra esses impulsos ao centralizar a narrativa na influência cultural do assassino, e não em seus feitos macabros. Ao contrário de adaptações que tratam Gein como espetáculo, a série evita a romantização. Ele não é gênio do mal, não é anti-herói, não é mártir da própria loucura. É exatamente o que sempre foi: um sintoma de algo maior.

A terceira temporada funciona melhor quando evidencia que o verdadeiro tema não é o assassino, mas aquilo que a sociedade fez com sua história. Gein foi diagnosticado como incapaz de responder por seus atos, internado e só depois considerado apto para julgamento. No entanto, sua figura se transformou em inspiração para alguns dos maiores marcos do terror, de Psicose a O Massacre da Serra Elétrica

E mesmo que a linha cronológica dos fatos, ou até mesmo as questões levantadas sobre certos momentos sejam ou não verídicos, é inegável que a produção entrega uma trama de qualidade, além de uma ótima escolha trazendo Hunnam para o protagonismo.

No fim, Monstro: A História de Ed Gein encontra seu ponto de força no desconforto. É elegante e brutal, reflexiva e perturbadora. Mostra que o medo não nasce apenas do indivíduo monstruoso, mas da sociedade que o cria, e do desejo de revisitar esse horror, repetidamente, em nossas histórias. E talvez por isso a série permaneça na mente muito depois do último episódio.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima