Mundo Proibido (Brasil, 2022)
Título Original: Mundo Proibido
Direção: Alê Camargo e Camila Carrossine
Roteiro: Alê Camargo, Camila Carrossine e Walter Plitt Quintin
Elenco principal: Pierre Bittencourt, Alê Camargo, Luna Carrossine Camargo, Shallana Costa, Giulia de Brito e Tininha Godoy
Duração: 95 minutos
Distribuição brasileira: Um Filmes
Algo que é sempre necessário lembrar ao assistir um filme de animação é que a animação por si não é um gênero, apenas uma forma possível de contar uma história. Ao haver então o anúncio de um filme brasileiro de sci-fi, gênero que já não é o mais abordado pelas produções nacionais, e ainda em animação, que é uma forma mais associada pelo brasileiro ao público infantil, é bastante feliz ver essa associação pouco usual, mas que já se mostrou um sucesso com produções como Wall-e (2008) e Akira (1988).

Então, como também é muito comum ao cinema de gênero, o filme é resultado de um processo de muitos anos realizado por apaixonados pela sua criação. Produzido de 2018 a 2022, com lançamento em diversos festivais ao redor do mundo e finalmente chegando ao público, a obra conta a história de um personagem inventado muito antes da ideia do filme. Ela faz parte de uma história criada em 1992 com o personagem Fujiwara Manchester (Pierre Bittencourt), o desbravador espacial. No longa-metragem, ele é acompanhado por sua namorada Lydia Moshivah (Shallana Costa) em uma grande aventura em busca de um tesouro perdido no espaço.
Ainda que exista essa linha narrativa clara, de existir um objetivo concreto e toda a obra girar em torno disso, o que realmente interessa no filme é a criação de relações entre os personagens e a compreensão de como essas relações se alteram ao longo da aventura. Se pensarmos de maneira prática, o roteiro é simples, seguindo uma lógica de jornada do herói clássica – mas a sua riqueza está tanto na ambientação quanto no subtexto da relação entre um casal que não sabe se está na hora de começar a descansar de suas aventuras.
O universo criado para o longa-metragem é magnífico. Desde a primeira cena, na qual observamos uma entidade luminosa galáctica falando com duas vozes ao mesmo tempo, percebemos que cada detalhe do filme foi muito bem pensado e colocado ali propositalmente. O desenvolvimento de algumas décadas desse ambiente é muito claro, e provavelmente traz nuances para quem já conhece os personagens e histórias relacionados que não são claros para alguém que, como eu, tem um primeiro contato com o material.
Mesmo assim, não há nenhum problema de compreensão para quem ainda não está imerso no assunto. A narrativa simples ajuda neste sentido, e o filme consegue aproveitar bem sua característica audiovisual para explicar conceitos através de imagens e não ter que criar diálogos expositivos para resolver todas as suas questões. Os diálogos são utilizados para realmente avançar com a narrativa e, muitas vezes, criar o humor peculiar que acaba se tornando marca registrada do longa.
O principal problema que o público pode encontrar está menos ligado ao filme em si do que no marketing que está sendo feito dele. Utilizando a ideia de que o filme é feito em 3D e com computação gráfica, as propagandas da obra estão apontando para as animações de grandes estúdios como uma prova de sua qualidade. Felizmente, ele é muito diferente dos filmes de grandes estúdios tanto em forma quanto em conteúdo – mas isso causa, inevitavelmente, desconforto em alguém que acredita que assistirá um filme da Disney e se depara com uma obra muito mais adulta e complexa.
Os fãs de ficção científica podem se alegrar: temos mais um universo brasileiro do gênero para ser explorado no audiovisual. E, como espectadora, resta seguir os diretores para ver qual será a sua nova empreitada.