Crítica | Quarteto Fantástico: Primeiros Passos

Quarteto Fantástico – Primeiros Passos (Estados Unidos, 2025)

Título Original: The Fantastic Four: First Steps
Direção: Matt Shakman
Roteiro: Jeff Kaplan, Josh Friedman e Peter Cameron
Elenco principal: Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Joseph Quinn, Ebon Moss-Bachrach, John Malkovich e Julia Garner
Duração: 115 min
Distribuição: Disney

Nova aposta da Marvel, ‘Quarteto Fantástico: Primeiros Passos’ é mais fantástico nos trailers do que nas telonas

Quarteto Fantástico: Primeiros Passos é a quarta adaptação feita para os cinemas da família formada por quatro super-heróis. A primeira versão teria chegado às telonas em 1994, mas o cancelamento repentino, pouco antes da estreia, tirou o filme de circulação antes mesmo que ele fosse exibido oficialmente. Pouco mais de dez anos depois, em 2005, a segunda versão não só conseguiu inaugurar o quarteto nas salas de cinema, como teve uma sequência. Apesar do sucesso comercial, o estilo cômico de besteirol do início dos anos 2000 não agradou à crítica especializada.

Mais dez anos se passaram e, em 2015, uma terceira versão mais sombria e dramática desagradou a todos e se tornou um filme que muitos preferem esquecer que já assistiram. Agora, em 2025, a quarta tentativa promete emplacar o Senhor Fantástico, a Mulher Invisível, o Tocha Humana e o Coisa de vez. Seria quatro o número da sorte?

Os primeiros minutos do filme já revelam um passo importante: a família ganhará um quinto integrante. Após dois anos tentando, Reed (Pedro Pascal) e Sue (Vanessa Kirby) se preparam para a chegada do seu primogênito. Ao lado de Johnny (Joseph Quinn) e Ben (Ebon Moss-Bachrach), os papais de primeira viagem vivem o auge de seu estrelato como super-heróis e fazem o bem por onde passam. Contudo, quando Galactus, o devorador de mundos, coloca a Terra no seu cardápio, eles se veem diante de um grande sacrifício.

A novidade marca o início da fase 6 do MCU (Universo Cinematográfico da Marvel) e foi confiada a Matt Shakman. Conhecido por sua assinatura em WandaVision, o diretor traz a estética retrô-futurista da minissérie para este outro universo do estúdio. O resultado é um visual deslumbrante, que exala a energia de um comercial de televisão de eletrodomésticos de última geração da década de 1960. Os personagens jantam juntos à mesa pontualmente todos os dias e têm um robô assistente carismático.

Contudo, a embalagem é melhor que o produto em si. O anúncio de um elenco estelar e as campanhas de marketing do filme o venderam por um valor maior do que a experiência no cinema proporciona. Nesse sentido, o principal problema de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos está no roteiro. A adaptação foi realizada por um time de quatro roteiristas, todos calouros na Marvel e com currículos relativamente enxutos — com exceção de Eric Pearson, que assinou outros longas como Thor: Ragnarok (2017), Viúva Negra (2021) e Thunderbolts (2025).

O primeiro ato é um tanto quanto introdutório e se dedica a contextualizar o espectador rapidamente sobre a história de origem do grupo. De maneira dinâmica, situa aqueles que não conhecem a aventura espacial que deu poderes aos quatro astronautas e relembra os que conhecem sem delongas. Entretanto, o enredo demora até realmente chegar ao conflito central. A sensação é de uma contagem regressiva para o lançamento de uma espaçonave que já deveria ter decolado. Em nenhum momento acreditamos que o planeta ou o bebê estiveram diante de uma ameaça real. Logo, o final feliz se torna uma certeza, e o desenrolar dos contratempos segue uma estrutura protocolar reproduzida com frequência no gênero.

Ademais, é perceptível como a direção de elenco de Sarah Finn foi meticulosa em escalar cada nome do casting. Pedro Pascal, o mais recente triunfo no baralho de Hollywood, retorna ao tom paternal que marcou sua carreira como o mercenário espacial de The Mandalorian e o mentor apocalíptico de The Last of Us. Ebon Moss-Bachrach, um dos nomes revelados com a série-fenômeno The Bear, faz o estilo turrão de bom coração e se contrapõe com Joseph Quinn, também descoberto pela TV nos últimos anos, pela breve e marcante participação em Stranger Things. Contudo, dentre todas as estrelas, quem realmente brilha é Vanessa Kirby.

A intérprete de Sue Storm dá à luz mais uma vez em um parto difícil, como encarou no drama sobre maternidade Pieces of a Woman — papel pelo qual foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 2021. Kirby dá contornos complexos à personagem, equilibrando ser mãe com ser uma heroína — e mostrando que, de certa forma, ambos são sinônimos. Apesar disso, ela é a única que consegue sobrepor um arco narrativo individual significativo. Tocha Humana cai em um humor de obviedades, que se torna repetitivo com o tempo, enquanto Coisa flerta com um affair que poderia ser deixado de lado em um corte de edição mais afiado do filme.

Fora do núcleo principal, Julia Garner vive a Surfista Prateada, arauto do vilão, e repete a dose da jovem solitária e cínica que lhe rendeu alguns prêmios como Ruth Langmore, de Ozark. E Natasha Lyonne é mal aproveitada como par romântico de Ben, figurando em uma cena ou outra. Um verdadeiro desperdício para uma atriz de seu calibre.

Portanto, é injusto dizer que Quarteto Fantástico: Primeiros Passos é um fracasso como foram as tentativas anteriores de adaptá-los dos quadrinhos para as telas, mas também não é impossível pensar que, em uma quinta tentativa, eles possam ser ainda mais fantásticos. 

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