Crítica | Quarteto Fantástico: Primeiros Passos

Quarteto Fantástico – Primeiros Passos (Estados Unidos, 2025)

Título Original: The Fantastic Four: First Steps
Direção: Matt Shakman
Roteiro: Jeff Kaplan, Josh Friedman e Peter Cameron
Elenco principal: Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Joseph Quinn, Ebon Moss-Bachrach, John Malkovich e Julia Garner
Duração: 115 min
Distribuição: Disney

Qual o limite que uma mãe chegaria para salvar a vida do seu filho? Talvez essa seja uma pergunta que atormenta o diretor Matt Shakman dentro do seu trabalho dentro da Marvel Studios. E é engraçado perceber os reflexos que sua série Wandavision tem em seu longa-metragem Quarteto Fantástico: Primeiros Passos.

Se na série vemos a transformação de Wanda Maximoff em Feiticeira Escarlate pelo seu luto em relação ao marido e filhos, em Quarteto Fantástico: Primeiros Passos nós acompanhamos quase todas as fases da gravidez. Desde a primeira cena, que mostra o resultado do teste de Sue (Vanessa Kirby) até seus últimos momentos, é difícil não pensar como essas duas personagens se contrastam. Se uma se torna vilã com vê maiúsculo por não conseguir lidar com a ausência de Billy e Tommy, a outra acaba até sendo vilanizada, mas consegue criar a reviravolta que apenas um membro do Quarteto Fantástico conseguiria e volta às graças públicas. 

Considerando que o grupo de super-herois sempre teve uma boa popularidade nos quadrinhos, sua trajetória em telas não foi tão bem sucedida. Com adaptações que datam desde 1996 e diversas tentativas de colocar o grupo em um papel de destaque, sempre houve algo que não se encaixava. Por vezes esse motivo foi a tentativa de encontrar um tom cômico que funcionasse, mas até os acordos de propriedade intelectual foram um motivo importante para que filmes menos estruturados seguissem saindo nos cinemas. Assim, era de se esperar que o retorno do grupo para casa na Marvel Cinematic Universe acontecesse em grande estilo.

E a produção veio com um valor agregado altíssimo, seja pelo seu nível técnico, pelo elenco de alto escalão utilizado ou até pela previsão de uma revitalização em um mercado aparentemente estagnado. O irônico é que o filme também funciona como um retrofit de um filme de herois do começo da sua popularidade – mudando algo na estética, mas sem criar nenhum rompimento com a estrutura básica. Apresentam-se os mocinhos, o Quarteto, o problema, um vilão que quer devorar o planeta (Galactus), e passa-se a maior parte da obra pensando em uma solução – em uma estrutura já muito conhecida de jornada do heroi.

A questão é que tudo isso é feito com muito estilo. O novo Quarteto, por exemplo, é formado por Vanessa Kirby como Sue, o queridinho de Hollywood Pedro Pascal como Reed, Joseph Quinn como Johnny e Ebon Moss-Bachrach como Coisa. O casting não poderia ser mais acertado, e se existia uma dúvida se nomes tão em voga funcionariam juntos em tela, a resposta simples é que sim, eles conseguem nos passar a sensação dessa família perfeita. Ao mesmo tempo, percebe-se um conceito fortíssimo da direção de arte do filme, que aposta no retrofuturismo como estética e que consegue criar um universo tão possível que quase conseguimos senti-lo. Tudo, da estética das caixas de cereal até o uso de um H.E.R.B.I.E. que parece saído dos Jetsons, sustenta a ilusão deste futuro do passado. Mais do que isso, a estética combina com a trilha da narrativa, cujo flerte com a ficção científica não é baixo.

Assim, logo se torna óbvio que o filme será agradável de assistir, o que é um real avanço em relação aos seus antecessores. Há alguns poucos momentos desconfortáveis, como o desperdício de Natasha Lyonne em um papel absolutamente secundário, ou uma leve dificuldade de fazer o humor de Johnny decolar (piada intencional). Só que, considerando todos os anos de planejamento, filmes antecessores da Marvel e até mesmo este casting estrelado, tudo acaba se tornando um pouco correto demais. Torna-se difícil acreditar que todo esse cenário foi criado apenas para ser destruído e engavetado, o que acaba com o medo do público de que algo realmente trágico possa acontecer. E, sem o medo do perigo, toda a ameaça se enfraquece.

Longe de ser um filme problemático ou um tiro no escuro, a obra tem muitos acertos, e felizmente consegue retirar o Quarteto Fantástico do ostracismo audiovisual. Mas, considerando a quantidade de vezes que essa história já foi contada com roupagens igualmente sensacionais, o fator de inovação ainda não encontra o tom necessário para colocar o estúdio de volta aos trilhos.

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