AJ Vai ao Cachorródromo (EUA, 2024)
Título Original: AJ Goes to the Dog Park
Direção: Toby Jones
Roteiro: Toby Jones
Elenco principal: AJ Thompson, Greg Carlson, Danny Davy, Morgan Hoyt Davy, Jason Ehlert, Jacob Hartje e Crystal Cossette Knight
Duração: 79 minutos
Os primeiros cinco minutos de AJ Vai ao Cachorródromo devem ser o suficiente para qualquer pessoa decidir se irá gostar ou não do filme. Não porque ele não tenha desenvolvimento de história ou de personagens, mas sim por conta de seu tom absolutamente único e que pode ser hilário para muitas pessoas e irritante para outras. Com atuações maneiristas e cenários e objetos totalmente cientes de sua função como parte de um filme, ele cria a sua estética e funcionamento totalmente peculiares, que se você se interessar, irá certamente amar o filme, mas que se não forem interessantes para você, certamente o farão sentir a narrativa como boba e cansativa.

O protagonista, AJ (AJ Thompson), é um homem que vive a sua vida perfeita. Ele acorda, come sua torrada de canela, trabalha, janta com seus amigos ou seu pai, assiste Youtube com seus cachorros até cair no sono e, aos fins de semana, vai ao cachorródromo com eles. Tal perfeição desmorona quando ele vai ao cachorródromo e descobre que ele foi transformado em um blogódromo, no qual cachorros não são permitidos. Então, ele descobre que seu novo objetivo de vida é se tornar prefeito da cidade e voltar com seu querido cachorródromo.
Como o filme lida bastante com as jornadas clichês do cinema, é claro que essa jornada será longa, árdua e com diversas etapas. E o que o filme faz genialmente é utilizar a estrutura clássica de filmes, quase que seguindo um manual de roteiro, para criar essa jornada do heroi. Desde a sua transformação interna até a externa, tudo o que acontece é previsível, mas sabendo disso, o filme utiliza essa linguagem inusitada e com grandes gestos para mostrar que está consciente disso e satirizando o fato de que não há nada de novo se passando na história. Um ótimo exemplo de quando isso acontece é quando, após um flashback, os personagens literalmente entram na cena seguinte pulando no novo quadro – mostrando a ciência da interrupção da narrativa e a necessidade de retornar ao que estava acontecendo.
Sob essa linguagem bizarra e uma camada de humor um tanto suspeito, se esconde o que é mais interessante na obra: a sua capacidade de utilizar essa estrutura para criar uma sátira. Se até determinado momento do filme estamos esperando que ele se torne uma fábula fofa sobre vencer desafios e descobrir o que realmente importa na vida, quando ele parte para sua reta final seu humor escrachado nos abre novamente as portas para o absurdo e relembra que o filme é uma crítica a todo um sistema de produção de filmes engessado e desatualizado.
Entre as risadas e todo o estranhamento formal que ele causa, percebe-se uma profunda reflexão sobre a máquina do cinema, algo que faz sentido quando pensamos que o diretor e roteirista trabalhou por anos no Cartoon Network e tem contato próximo com a indústria cinematográfica. Até mesmo a linguagem torna-se mais palatável, ao pensarmos que ele está misturando a linguagem da animação no universo de pessoas reais – ao contrário do que aconteceu com os filmes de super herois que ao passar para telas grandes, tentaram entrar em um tom realista.
Assim, o filme traz uma possibilidade narrativa completamente fora do esperado, e consegue fazer o público rir por toda a sua duração, mas ainda dando material para a reflexão após a sessão. O melhor que se pode esperar de uma comédia com elementos fantásticos.