Crítica | Paddington: Uma Aventura na Floresta

Terceiro filme da franquia Paddington prova que o ursinho britânico ainda tem muitas aventuras para viver nas telonas

Se houvesse uma calçada da fama dos ursos mais famosos do cinema, Paddington certamente teria sua estrela ao lado de nomes como Zé Colméia, Ursinho Pooh e Lotso. No auge de sua carreira, o urso inglês apaixonado por marmelada se tornou um ícone para a nova geração, que cresce assistindo às suas aventuras atrapalhadas e ingênuas, e também para os holofotes da crítica. Afinal, As Aventuras de Paddington 2 chegou a ser o filme mais bem avaliado do agregador de críticas Rotten Tomatoes em seu lançamento. Nada disso seria possível sem Paul King, diretor e roteirista dos dois primeiros longas da franquia, que, surpreendentemente, não retornou para o terceiro filme da saga. Mas, mesmo sem King atrás das câmeras, o que Paddington vai aprontar desta vez?

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Em Paddington: Uma Aventura na Floresta, o personagem-título viaja com a família Brown até as exuberantes florestas do Peru, sua terra natal, para investigar o misterioso desaparecimento de sua amada Tia Lucy. Ainda desajeitado e bondoso, Paddington descobre mais sobre si mesmo e suas origens enquanto desbrava a densa e biodiversa mata peruana.

Apesar de parecerem indissociáveis, Paddington já havia vivido diversas histórias antes de Paul King assumir sua direção no cinema. Isso porque a franquia As Aventuras de Paddington é adaptada de uma série de livros infantis de sucesso, escritos pelo autor britânico Michael Bond. De todo modo, era difícil imaginar o universo nas telonas sem a visão de King, que, neste terceiro longa, atua apenas como produtor executivo – ou seja, mais envolvido nos trâmites administrativos do que nos aspectos criativos da obra. Quem assume a direção é Douglas Wilson, nome pouco conhecido no circuito cinematográfico. Wilson fez carreira na direção criativa de comerciais e videoclipes, além de colaborar em alguns curtas-metragens. Apesar de um histórico diferente, ele surpreende ao não apenas captar a essência familiar e acolhedora da franquia, mas também ao entregar uma sequência tão divertida quanto as anteriores.

A realização de Wilson é intuitiva e dinâmica. Conforme o enredo avança, todas as pontas soltas se amarram naturalmente, permitindo que o público acompanhe a linha de raciocínio sem dificuldades – algo essencial para um filme que se comunica com o público infantil. Esse aspecto, sem dúvida, também é favorecido pelo roteiro de James Lamont e Mark Burton. Lamont, vale lembrar, foi um dos roteiristas do curta Paddington conhece a Rainha Elizabeth II (uma produção que eu nem sabia que existia até escrever este texto!). Já Burton tem no currículo animações de peso, como Wallace & Gromit – Avengança, projeto da Netflix indicado ao Oscar de Melhor Animação em 2025.

Outro ponto forte da direção de Wilson está nas referências cinematográficas que rendem alguns dos melhores momentos de Paddington: Uma Aventura na Floresta. Uma delas é a belíssima cena musical em que Olivia Colman canta no topo de uma montanha semelhante a performance de Julia Andrews cantando The Sound of Music no clássico A Noviça Rebelde. Já a chegada triunfal do ambicioso caçador de tesouros Hunter Cabot (Antonio Banderas), com seu barco e gramofone, remete diretamente ao épico alemão Fitzcarraldo, estrelado por Klaus Kinski. É verdade que Wilson ainda não tem o domínio absoluto que Paul King demonstrava, capaz de fazer as gargalhadas ecoarem no cinema como um passe de mágica. Mas ele também tem seus truques e sabe tirar uma carta da manga quando é preciso.

Aliás, citei acima as participações de Olivia Colman e Antonio Banderas e eles são a verdadeira definição da expressão “roubar a cena”. Os dois se alternam no papel de antagonistas, mantendo um equilíbrio perfeito entre vilania e carisma. Colman interpreta uma freira sonsa e inconveniente, demonstrando o timing cômico afiado pelo qual já é conhecida – se você já assistiu Fleabag, sabe do que estou falando. Banderas, por sua vez, entrega um capitão excêntrico e delirante, dividido entre o desejo pelo ouro dos povos nativos e a lealdade à própria filha.

No fim das contas, Paddington: Uma Aventura na Floresta é uma grata surpresa. O filme segue, sim, uma fórmula simples que a franquia já refinou ao longo dos anos, mas acrescenta novos ingredientes que deixam o resultado ainda mais saboroso – como um sanduíche de marmelada preparado com capricho. Em meio à onda de remakes, continuações e reboots que muitas vezes carecem de originalidade, Paddington continua trilhando seu próprio caminho, com sua família ao lado e dando a “encarada dura” quando é necessário. E, com isso, mostra que ainda há muitas aventuras para viver nesse mar de autenticidade.

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