Os Perigos da Viagem no Tempo (Reino Unido, 2024)
Título Original: Time Travel Is Dangerous
Direção: Chris Reading
Roteiro: Chris Reading, Anna-Elizabeth Shakespeare e Hillary Shakespeare
Elenco principal: Laura Aikman, Ruth Syratt, Megan Stevenson, Stephen Fry, Johnny Vegas, Sophie Thompson e Jane Horrocks
Duração: 99 minutos
Imagine o sucesso que um brechó teria se ele tivesse uma máquina de viagem no tempo? Pois é essa a premissa de Os Perigos da Viagem no Tempo, que retrata a vida de duas amigas, Ruth (Ruth Syratt) e Megan (Megan Stevenson), que descobrem que um dos itens que encontraram é, na realidade, uma máquina que pode transportá-las no tempo e espaço. Na comédia sci-fi, elas aproveitam a situação pouco usual para renovar o seu estoque e melhorar um pouco suas vendas.

A forma do filme é tão responsável pelo seu sucesso quanto seu conteúdo, para iniciar pela escolha do mockumentary como maneira de contar essa história. Entendemos que as amigas estão sendo seguidas por câmeras porque elas estavam iniciando a gravação de um documentário, retomado quando suas vendas começam a explodir. E, curiosamente, as personagens que elas interpretam no filme são baseadas nelas mesmas, assim como o brechó colocado no filme é seu estabelecimento comercial.
Mas os traços de desconexão com a realidade que elas apresentam são um grande acerto em relação ao tom do filme. Completamente alienadas, ao ter uma máquina do tempo nas mãos, elas não decidem matar o bebê Hitler ou resolver um trauma pessoal, mas sim passear aleatoriamente por outros locais apenas para ver como era e fazer pequenos furtos para a sua loja. E apesar de o filme não passar muito tempo querendo explicar termos científicos ou temas já muito abordados como os perigos de se viajar no tempo, com essa atitude elas conseguem justamente evitar a bagunça nas linhas do tempo que estão presentes em diversas franquias populares. Apesar de existirem tais perigos, a obra não foca apenas neste tipo de confusão, mas sim nas relações humanas criadas a partir dessa grande invenção.
Ainda que o roteiro dessa narrativa principal seja o que sustenta a obra, ainda mais ao considerarmos o carisma ingênuo das personagens principais, sua capacidade de transitar por diversos assuntos e formatos também ajuda a experiência cinematográfica a ser muito dinâmica. Temos, por exemplo, a inserção de um show de televisão fictício que tanto ajuda a explicar alguns conceitos necessários quanto permite uma pausa nessa narrativa principal. Além disso, quando a vida das personagens se cruza com a vida real do homem que interpretava o cientista, Ralph (Brian Bovvel), percebemos que existia uma dupla necessidade dessas intermissões.
E então, ao considerar que as duas pessoas reais que inspiraram o filme são diretoras de arte, se torna óbvio que este é um dos aspectos mais interessantes do filme. Desde a escolha do carrinho de bate-bate como nave desta viagem até o brilho neon que vai tomando conta da obra, tudo fica no espectro de uma modernidade nostálgica, quase como algo que se imaginaria que seria moderno nos anos 1980. Entre os objetos de época, o brechó que parece estar sempre mudando de composição e até o design de invenções que são apresentadas ao longo da obra, tudo se encaixa perfeitamente no lugar, criando o tipo de caos organizado que se esperaria desse filme.
Apesar de algumas vezes ele cair em estereótipos, ele tem uma jornada divertida para apresentar e a faz de maneira tão ligada à nossa realidade atual que é difícil não enxergar um pouco dos nossos arredores no filme. Entre risadas e uma história de aquecer o coração entre duas amigas, o longa mostra que mesmo quando se tem um baixo orçamento, é possível fazer um grande filme.