Transcendendo Dimensões (Japão, 2025)
Título Original: 次元を超える
Direção: Toshiaki Toyoda
Roteiro: Toshiaki Toyoda
Elenco principal: Chihara Jr., Masahiro Higashide, Haruka Imô, Yôsuke Kubozuka, Ryûhei Matsuda e Kiyohiko Shibukawa
Duração: 96 minutos
O filme Transcendendo Dimensões já deixa bem claro o seu tom para os espectadores em seus primeiros minutos. Temos um grupo de pessoas dentro de um templo xintoísta comandando por um sacerdote pouco usual, Ajari (Chihara Jr.), que logo mostra a um de seus seguidores que o caminho para alcançar os seus objetivos é muito menos pacifista do que o esperado. Ele pede a um dos seguidores que corte o seu dedo mindinho para provar o comprometimento com a mudança de vida desejada, em um comportamento bem de acordo com a recente postura de coaches brasileiros. Então, compreendemos porque o filme está em um festival de cinema fantástico: sangue, mundo sobrenatural e viagens entre dimensões estão ali para nos guiar pelo que, por fim, será uma história de amor.

Antes do início dos créditos iniciais, que demoram mais de meia hora para aparecer em tela, entendemos melhor porque acompanhamos aquela cena inicial. Nela, conhecemos ao fundo Nonoka (Haruka Imô) e Yasu (Masahiro Higashide), e em breve entendemos que Nonoka fora atrás do assassino de aluguel para pedir ajuda, dado que o seu namorado Rosuke (Yôsuke Kubozuka) sumiu enquanto era guiado pelo mestre Ajari. Ela deseja, então, que ele vingue o desaparecimento do amado e que tente buscar o rapaz desaparecido, e esta é a real narrativa que a obra conta, com a cena inicial sendo apenas uma introdução para a índole e comportamento daquele homem.
Aqui, ainda que não seja necessário, compreender um pouco sobre o xintoísmo japonês pode ser de grande ajuda, pois o próprio conceito da obra está bastante ligado a um dos princípios básicos da religião: a tenuidade da linha entre a vida e a morte, havendo na realidade um ciclo de repetições em toda a humanidade e com uma forte presença de deidades em todas as tarefas do dia-a-dia. O fantástico está bastante integrado com o prosaico, então cenas como as encenações de energias entre os sacerdotes são muito mais plausíveis para japoneses do que para um público ocidentalizado. Obviamente, a obra transpassa a imaterialidade religiosa para colocar materialidade nos atos, mas no princípio, isso parece muito mais plausível para um xintoísta do que para um cristão.
O modo que o filme encontra para criar essa materialidade é incrível. Começamos com coisas mais simples, como a cena simples do exorcismo ou os gestos com as mãos que levam personagens a se mover ou lutar com pequenas bolas de energia. O que se torna realmente incrível é o momento no qual somos levados para a transcendência entre dimensões através de uma viagem visual incrível entre galáxias, planetas e todo o universo. Claramente com uma inspiração em Stanley Kubrick em seu 2001: Uma Odisseia no Espaço, temos uma cena incrível e que nos ajuda a acompanhar a jornada do personagem fisicamente.
Especialmente nessa cena, a trilha sonora também ajuda a criar um transe. Aqui, temos a mistura do som das conchas que é apresentado pelo roteiro como elemento essencial para a transcendência, com tambores japoneses criando algo alucinatório e incomum para os ouvidos dos espectadores ocidentais. Mesmo em momentos menos impactantes do filme, essa trilha acompanha as sensações e sentimentos dos personagens, ajudando a criar ritmo nos momentos em que o filme suprime quase que completamente os diálogos.
O filme se torna então uma experiência diferente tanto para quem já conhece um cinema mais tradicional japonês com sua atuação específica quanto para quem simplesmente cruzar com ele sem conhecer nada sobre a cultura do país. Mesmo que o resto da história fique um pouco confuso, seu impacto visual e sensorial é tão grande que consegue, como o título do próprio filme diz, transcender as dimensões. E, para esse espectador que busca um cinema experimental, ele será uma feliz jornada em busca da vingança de uma mulher em sofrimento.